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21.3. Afirmar direitos contra a homofobia e a transfobia

A pandemia expôs a situação de vulnerabilidade das pessoas que têm menos acesso aos serviços públicos, nomeadamente das que são discriminadas nesse acesso em razão da sua orientação sexual, identidade de género, expressão de género ou características sexuais.

O relatório das Nações Unidas sobre o impacto do COVID-19 nos direitos humanos das pessoas LGBT reitera que estas pessoas são sujeitas a impactos acrescidos no que toca ao acesso à saúde, estigmatização e discriminação, violência doméstica e acesso ao mercado de trabalho, instando os decisores políticos, entre outras ações, a garantir que as medidas destinadas a minorar os efeitos da pandemia considerem a particular vulnerabilidade das pessoas LGBTI.

Igualdade na dádiva de sangue

A discriminação devido à orientação sexual na dádiva de sangue de homens gays e bissexuais teve finalmente o seu fim este ano. Esta vitória, para a qual participaram as pessoas que denunciaram a discriminação que eram alvo, os ativistas e as associações LGBTQI, foi o resultado de um percurso longo e tortuoso: desde a existência de uma previsão legal que injustamente discriminava, passando pela prática continuada de discriminação sem fundamento legal, até à expressa proibição da discriminação. O percurso feito é demonstrativo de como a perseverança na construção de uma sociedade mais justa e mais igual para todas as pessoas é recompensado, se não desistirmos nem baixarmos os braços. Por isso dizemos, sim é sempre possível!

Em Portugal, o bullying homofóbico e transfóbico ainda é uma realidade, nas escolas e na sociedade; e o acesso ao trabalho,  aos serviços públicos e ao usufruto do espaço público continua a ser negado e dificultado às pessoas LGBTQI. Por exemplo, segundo o relatório da FRA 2020 – A long way to go for LGBTI equality, 57% dos casais do mesmo sexo em Portugal evitam dar a mão em público. Apesar da Comissão Europeia ter apresentado a primeira estratégia da UE para a igualdade das pessoas lésbicas, gays, bissexuais, trans, intersexo e queer, não devemos adiar medidas de combate contra a discriminação, medidas de proteção e segurança que possibilitem avançar na construção de uma sociedade mais inclusiva.  

As propostas do Bloco:

  • Criação de uma lei quadro para a promoção do exercício à autodeterminação da identidade de género, expressão de género e do direito à proteção das características sexuais, definindo um conjunto de princípios a adotar por entidades públicas e privadas nas áreas da educação, da saúde, do trabalho, da habitação e da proteção social, bem como a criação de procedimentos de prevenção e denúncia de atos de violência contra pessoas LGBTQI;

  • Realização de inquérito nacional sobre a diversidade populacional portuguesa, com enfoque na orientação sexual, identidade de género, expressão de género e características sexuais, identificando as suas condições de vida e problemas sociais específicos. Só conhecendo a realidade é possível o desenho de políticas públicas de combate à discriminação;

  • Criminalização das chamadas “terapias” de conversão, práticas de tortura infligidas sobre pessoas LGBTQI, por razões ligadas à sua orientação sexual, expressão de género, identidade de género ou às suas características sexuais;

  • Proteção das crianças e dos jovens, bem como do pessoal docente e não docente LGBTQI nas escolas;

  • Criação da lei de reconhecimento das organizações não governamentais LGBTQI;

  • Criação de uma entidade pública com competências na área LGBTQI;

  • Criação de uma rede nacional de centros de referência LGBTQI nos principais centros urbanos, a construir e gerir em parceria com autarquias e associações/ativistas;

  • Adaptação de procedimentos e formulários da Administração Pública à realidade portuguesa, na sua diversidade sexual e familiar;

  • Reconhecimento legal de identidades LGBTQI como fundamento para atribuição de asilo e proteção;

  • Efetivo acesso à saúde pelas pessoas trans e não binárias.

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